15 de julho de 2008

Carpe diem quam minimum credula postero

Não sei se é sorte. E não sei mesmo se acredito em Deus. Sei que enquanto vivo um dia após o outro, sem preocupações excessivas sobre o que sou ou serei, as pessoas que se preocupam diariamente com isso parecem nadar eternamente contra uma correnteza, tentando ser o que não são ou tentando atingir agora o que só poderá ser atingido muito adiante.

Tempo atrás conheci um cara assim, exatamente como sou. Na verdade, esse cara é muito melhor que eu em tudo, tanto como profissional quanto como pessoa. Eu só melhorei a minha filosofia de vida com base na dele. E ele, como todos nós, vivia dia após dia os apuros que todos passamos, com essa eternidade de problemas. Mas continuava a conviver bem com seus sonhos... alguns, naquele momento, tão inatingíveis que pareciam ilusões doentias.

Alguns amigos entendiam a postura dele. Outros... bem, sempre existirão os "outros", que pisam, desestimulam...

Ele sempre foi uma boa pessoa. E poucos "outros" desestimulavam o rapaz, já que era bem difícil encontrar alguém que não gostasse muito dele ou que não fosse grato pelas tantas ajudas recebidas daquele doido.

Uma vez perguntei a um amigo em comum o que ele achava desse doido. Ele disse que o doido tinha a alma tão pura, fazia tudo tão de coração, que Deus o recompensava por isso, dando a ele tudo o que ele merecia.

Quando disse que não sei se acredito em Deus lá no começo do post, foi porque eu não faço nem a metade do que esse cara faz, mas ganho muito em troca do pouco que faço. E, pô, se Deus existisse mesmo, ele estaria cometendo uma injustiça tremenda me dando tanto, pois não ando merecendo muito. Daí a minha dúvida.

Talvez não seja a quantidade, mas a qualidade.

Quanto ao sujeito doido...

Ele ralou muito pra comprar um Twingo, que resolveu vender para comprar um trailer e morar no camping do Recreio dos Bandeirantes, no Rio. Promovia festas históricas por lá, com direito a banda de rock, composta de amigos, simplesmente, com bateria e tudo montada sobre o chão de areia. É o protagonista das minhas histórias inacreditáveis preferidas, como a de quando ele deixou o trabalho do meio do expediente em plena quarta-feira pra viajar pra Salvador com o carro de um colega de trabalho, que estava lá, trabalhando com ele naquele dia!

Agora ele vive na Inglaterra, pra onde foi apenas com a pequena reserva financeira que tinha quando decidiu abandonar o emprego aqui, só pra correr atrás de um sonho. E hoje vive bem, muito bem, ainda por lá. Volta ao Brasil quando dá, rala muito, e casou-se por lá com a namorada que saiu daqui anos depois da ida dele.

Seria sorte? Mas só sorte? Não é possível...

É difícil acreditar que Deus existe com tantos milagres explicados pela ciência, tantos mitos desmistificados.

Não sei... Sei que toco minha vida com a calma e paciência que já tinha, que foram apenas aprimoradas observando o mundo ao meu redor. E gente, tá dando certo!

Não acho que a vida tenha uma receita de bolo. Não copio modelos de vida, apenas recrio o meu quase diariamente. É como dançar conforme a música, mas sem deixar de escolher a música.

Sapias, vina liques et spatio brevi spem longam reseces. Dum loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem quam minimum credula postero.

Seja sábio, beba seu vinho e para o curto prazo reescala suas esperanças. Mesmo enquanto falamos, o tempo ciumento está fugindo de nós. Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.

(Horácio)

Um comentário:

Eu disse...

Tayza, como você sabe (acho que sabe), eu acredito em Deus, mas vou te dizer umas palavrinhas que podem soar meio pagãs... mas não são.
É um engano achar que Deus se manifesta na vida das pessoas de forma mágica. É um engano pensar que milagres são coisas absurdas e esperar que, para um milagre acontecer, surja uma fumacinha, um relâmpago do céu, um cara em fase terminal de uma doença se cure e bata o recorde mundial dos 100 m rasos.
Eu enxergo que Deus nos colocou no mundo e nos deu capacidade física e intelectual para conquistar as coisas. Ele não precisa nos dar mais nada. Ele nos deu o necessário.
O resto depende de nosso esforço e de nossas escolhas.
Deus não precisa intervir no mundo de forma mágica e sistemática, senão livre arbítrio seria o maior conto da carochinha.
As pessoas de bem podem não ter muitas coisas, mas sempre serão bem quistas e terão amigos que não as deixarão na mão.
Cada um colhe o que semeia e tem o retorno do seu trabalho.
E, mais ainda, Deus não é um cara malvado que castiga os ateus e faz eles se fuderem.
É assim que eu vejo as coisas.
Vou parar por aqui, porque já escrevi demais.
Beijo!