6 de maio de 2008

Insônia

- E então, como você está?
- To bem. E você?
- To bem também. Quando você volta ao Rio? Sabe, sinto saudades das nossas conversas. Gosto pra caramba de ti.
- Volto na semana que vem pra ver a minha mãe e ir ao psiquiatra. Perdi minha receita.
- Olha, não confunda o que eu acabei de dizer... Gosto de ti como pessoa, como amigo, o que rolou já era.
- Não to confundindo, gatinha.
- É que gosto de deixar tudo muito claro, principalmente com você.
- Eu sei. Me desculpe por aquele tempo, viu? Sabe, quando nos conhecemos eu estava muito sem paciência. Hoje eu compro paciência na farmácia: tem de 250 e 500mg.
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- Memê?
- Oi.
- Me passa o telefone de um bom psicólogo.
- Caramba, amiga! Ta tão ruim assim???
- Ta bravo. Qualquer dia deixo você me analisar.
- Ta bom. Anota aí: 2547-xxxx.
- Valeu.
- Mas o que ta pegando?
- Merda generalizada, Mê.
- Ah, então tenta nesse que te falei. Ele vai revirar você... Você precisa ser forte, senão não vai agüentar.
- Sou forte, Mê. E quero mais é que me revirem mesmo. Quero que alguém me conserte.
- Mas ele não vai te consertar... Vou aí e já te explico.
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No sábado, na praia, tentei reviver cada momento da minha vida, desde o primeiro momento da minha existência consciente. Estava (estou) em busca do motivo que me deixou assim. Repassei cada detalhe do qual me lembrava, desde a bacia com permanganato quando eu tinha três anos até a latada no olho que tomei numa briga. Lembrei das merdas que eu fazia... Eu era uma criança muito arteira, definitivamente, hehe. Fui interrompida quando estava chegando aos quinze anos. O sol estava indo embora e todos nós estávamos com fome. Mas hoje, ao digitar esse post, vi que eu me esqueci de muitos momentos. Será que foi de propósito? Agora, por exemplo, me lembrei de quando a minha avó paterna prendeu o meu dedo na porta e de como eu achava que aquilo tinha sido de propósito, pois achava que ela gostava mais da minha prima do que de mim. Lembrei-me também do momento em que me deram a notícia de que o meu pai havia falecido, de como eu corri pela praça gritando que não, aquilo não estava acontecendo. Lembrei-me também da última vez que o vi. Ele chegou na casa da minha avó pelo portão de ferro dos fundos e me deu o abraço mais gostoso da minha vida. Estranho, mas aquele foi o abraço mais longo que já recebi, embora tenha durado alguns poucos segundos...
Sei que um médico não pode me consertar, que tenho que fazer isso sozinha. Mas será que vou conseguir? Será que não vou piorar? Aff...
Sei que não quero mais sentir essas dores que sinto durante a noite.
Estranho como as dores da alma são mais fortes no escuro...

4 comentários:

B. disse...

Se precisar de um ombro amigo, um chocolate quente ou uma boa conversa...estamos aí.

B. disse...

um chopp tb tá na lista ;-)

Anônimo disse...

Sabe, eu nunca gostei muito de psicanálise. Nada contra quem faz, só com quem estuda, rs. É que desde os primórdios dessa ciência eu tenho embates cotidianos com o que esse povo publicou. Freud, sinceramente, me assusta. Sorte ele estar superado! :)
-prefiro o chopp.

Um beijo!

Tayza Carvalhaes disse...

Preciso mesmo de uns ombros amigos, de preferência circulando uma mesa de bar. Nada como estar com os amigos... Mas, ainda assim, acho que um profissional vai ajudar bastante. Vamos ver.